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1. Preparação

 

(VI) Sentimentos Reais na Fantasia

 

 

É mais provável o escritor de fantasia lidar com aranhas do tamanho de vacas ou exércitos super inteligentes de aranhas do que com aracnídeos comuns de jardim. Geralmente, a imaginação se lança primeiro em alguma possibilidade incrível. Mas ainda assim precisa atar essa possibilidade ao sentimento real – para você mesmo, para o leitor.

 

Uma frase muito citada da poetisa americana, Marianne Moore, fala sobre apresentar na poesia jardins imaginários com sapos de verdade. Certo, então ficção fantástica apresenta situações irreais com sentimentos de verdade.

 

A forma mais fácil de vincular situações imaginárias com sentimentos reais é procurar experiências similares, geralmente em escalas muito, muito menores. Em meu suspense de ficção científica, Hidden From View, há realidade virtual, jogos com a sensação de serem de verdade que lhe dão a genuína sensação de, por exemplo, estar caindo e batendo no chão há 500 km/h – até uma morte de realidade virtual. Fácil! Tudo o que tive de fazer foi me lembrar de passeios de roda gigantes, uma em particular que me matou de medo. Apertar o cinto… a ansiedade da antecipação… o roncar da máquina… Para-tudo-que-eu-quero-descer! Tudo isso, mas mais intenso.

 

Em Worldshaker, a ação se passa dentro de um automóvel gigantesco, uma montanha rolante de metal, quatro quilômetros de largura e um quilômetro de altura. Em uma cena inicial, Col sobe no topo da Ponte, do lado de fora, pela primeira vez e observa o vasto panorama pelo qual estão passando.

 

Céu aberto por todos os lados! … Era como velejar pelos ares… Sua visão nadou pela vasta extensão ao seu redor. … Ali estava o convés de metal cinza do Worldshaker muito abaixo – mas ainda mais abaixo, a paisagem se espalhava em torno de tudo, revelando-se a distância! Uma visão de florestas, colinas e mares! … Ele traçou uma fronteira sinuosa entre o azul do mar e as cores da terra… etc, etc.

 

Apesar de nunca ter tido a experiência de Col no automóvel gigante, foi fácil recordar visões panorâmicas e os sentimentos que elas me atiçaram. Na verdade, sou meio agorafóbico – acho espaços abertos inquietantes e excitantes. Também sou um cartofilista – faço pontos em mapas e atlas. Portanto sei que tenho o sentimento para construir uma cena do tipo.

 

Vistas panorâmicas apareceram em meus romances desde que Martin Smythe, em The Vicar of Morbing Vyle, escapou por uma chaminé e inspecionou todo um mundo coberto de neve do teto do presbitério. Faço cenas claustrofóbicas – funciona por momentos de claustrofobias que todos certamente já experienciaram – mas cenas agorafóbicas são uma especialidade! O bom da fantasia é como se pode amplificar os sentimentos. Não acredito que se possa imaginar um sentimento que nunca se teve, mas se pode imaginar um sentimento em um novo grau de intensidade.

 

(Talvez toda a ficção seja sobre isso. Pelo menos em ficção de gênero…)

 

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