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1. Preparação

 

(VII) Planejar ou não

 

 

Alguns autores são planejadores, outros se deixam levar pela maré. Quanto mais converso com outros autores profissionais, mais chego à conclusão de que não há um jeito melhor do que o outro.

 

Conheço autores que se jogam de cabeça na história enquanto outros nunca começam antes de ter um esboço detalhado de cada capítulo; alguns escrevem um primeiro rascunho rapidamente e depois revisam, já outros pensam no clímax e cuidadosamente trabalham de trás para frente. É incrível como métodos tão diferentes podem gerar incríveis resultados. O que importa é o método não deixar marca no livro terminado. A técnica surge com a experiência…

 

Eu estou no time dos planejadores. Penso como ondas ou atos de uma peça em vez de em capítulos, mas  gosto de pensar no romance antecipadamente. Escrevendo fantasia, passo muito tempo – por vezes, anos – criando o mundo onde a história ocorrerá antes de contá-la. Acredito ser uma tendência para autores de ficção, como elaborar primeiramente o clímax seria uma tendência a escritores de mistério. Ainda assim, escritores de fantasia também podem se jogar nas linhas, então parar e desenvolver o mundo pelo caminho. Precisei tirar meses de folga enquanto escrevia Ferren and the Angel para criar a história do mundo de Ferren.

 

Contudo… vou retroceder aqui. Embora você possa ser um planejador ou um espontâneo, acredito que há um tipo de planejamento que é pedir para dar errado, igualmente para um tipo de não-planejamento.

 

Com o planejamento, o problema está no plano fixo. Ou seja, o plano que você está determinado a se ater por todo o percurso, custe o que custar. Sejamos sinceros, pode-se planejar por séculos uma história e ainda não seria o suficiente para se estar completamente por cima de tudo. Sua história e personagens sempre se transformarão e desenvolverão novos ângulos conforme são escritos, então o autor precisa se manter flexível. Aprenda com a sua história, não apenas lhe dê ordens.

 

Com o não planejamento, o perigo está em não contemplar o futuro de modo algum. Soa bem falar em deixar a história tomar conta de si mesma, mas ao menos que faça uma seleção e uma modelação aqui e ali, eventos estão sujeitos a fracassarem como acontece na vida real. A regra da entropia! Finais fracos são aceitos em ficção semi-autobiográfica ou ficção literária, mas fantasia de gênero precisa de grandes finais satisfatórios.

 

Um autor pode não manter anotações ou planos conscientes, mas acredito que todo autor de gênero tem pelo menos o instinto de seguir um caminho interessante, no qual eventos crescerão sozinhos. Se o autor não se preocupar com o que acontece em seguida, por que os leitores se preocupariam?

 

Acima de tudo, não se pode arrancar um grande final da cartola no último minuto. Vejo o romance como um imenso monstro descontrolado cruzando uma campina, com o autor sentado as suas costas com apenas duas tiras servindo de rédea. De modo algum conseguirá direcionar esse monstro para o caminho escolhido repentinamente. Se deseja um final grandioso, precisa guiá-lo até ele, com uma leve pressão, desde o início.

 

Minhas anotações iniciais do planejamento para Worldshaker (quando ainda se chamava Leviathan):

 

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