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2. Escrevendo

 

(I) Rotina de escrita

 

 

A maioria dos autores profissionais que conheço tem uma rotina de escrita. Um conto pode ser escrito em um impulso de inspiração, mas um romance leva dias e dias durante um longo tempo.

 

Minha rotina é começar a trabalhar todo dia da semana logo após o café da manhã. A manhã, como descobri, é o período no qual mais me motivo. Entretanto, o principal é o hábito.

 

Eu costumava ser um procrastinador. Sempre que era hora de escrever, encontrava mil desculpas. Minha mente não estava no lugar certo, precisava revisar minhas anotações, isso ou aquilo outro. Receava cair de cabeça.

 

Agora tenho o costume de começar assim que acabo o café da manhã. Sei que vou escrever, então não fico brigando comigo mesmo para fazê-lo. Escrevo primeiro e a inspiração vem depois.

 

Bem, como esperar estar inspirado com ideias toda vez que se senta para escrever? Romances não funcionam assim. A inspiração de que precisam é infinitamente maior do que de um dia de escrita.

 

Minha importante descoberta foi: uma vez que me envolvo no processo de escrita, cedo ou tarde toda a história e o mudo começam a me fazer viajar de novo. São maiores do que eu, construídos ao longo de semanas e meses de planejamento e escrita. Meu humor naquele dia em particular não importa.

 

Essa descoberta me ajudou a superar meus 25 anos de bloqueio criativo. Outra descoberta foi que posso confiar na história e no mundo na minha cabeça sem reler as notas ou o escrito do dia anterior. Ou, pelo menos, sem julgar se estão bons ou ruins.

 

Tudo bem, às vezes dou uma olhada pelos últimos parágrafos do dia anterior — mas me recuso a me deixar pensar sobre possíveis melhoras. Uma vez que sou pego em revisões, estou perdido. Começo a mexer nas frases e na ordem das palavras, começo a hesitar e a ficar obcecado com detalhes minúsculos. Não! O que preciso para me recuperar é a sensação de larga escala e a confiança no romance como um todo.

 

Tenho sorte em poder organizar meus dias. Tiro o chapéu para qualquer um que precise encaixar a escrita em momentos de tempo livre. Especialmente mães de crianças pequenas — não sei como conseguem!

 

Uma coisa que já ouvi ser dita — e corresponde a minha experiência antes de virar escritor em tempo integral — é melhor ter períodos curtos frequentes de escrita (idealmente tempos determinados do dia) em vez de guardar para um único bloco ininterrupto de vários dias ou poucas semanas. O bloco único se torna intimidador quando sabe que tem de escrever agora ou nunca!

 

Ainda assim, alguns escritores conseguem trabalhar deste modo, e não tem problema. Faça o que der certo! Apenas não sinta como uma obrigação. É a versão poética da vida de escritor, momentos frenéticos quando as palavras transbordam de você.  Entretanto, a maioria dos escritores profissionais que conheço não trabalha dessa maneira. Para mim, aprender a trabalhar de modos diferentes foi parte do processo de superar o bloqueio.

 

Rotina e hábito não soam muito glamorosos, mas se a inspiração está em você, quem se importa como ela passa para a página? Liberação lenta ou rápida, dá na mesma no fim das contas.

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